“Não aceitei que Gandra fosse prejudicada”, diz José Mota depois de renunciar ao cargo de Presidente de Junta

À frente da Presidência da Junta de Freguesia de Gandra depois das autárquicas de 2021 (eleito como independente, mas em lista apoiada pelo PS), José Mota deixou o cargo na semana passada depois de uma reunião na Câmara Municipal de Paredes. Na origem da decisão está a perda de confiança política por parte do autarca do Concelho e uma disputa em tribunal de um terreno com a freguesia vizinha de Recarei.

O anúncio da renúncia ao mandato foi feito numa Assembleia Extraordinária de Freguesia, na passada sexta-feira 9, que contou com a presença de dezenas de habitantes no Centro Pastoral e Paroquial de S. Miguel de Gandra. O agora ex-Presidente da Junta de Freguesia disse que não aceitou “vender” a terra e que sai “desolado”. “Era minha vontade trabalhar pelo desenvolvimento e aumento da qualidade de vida das pessoas de Gandra, mas não me deixaram”, disse.

Tudo começou com uma reunião para a qual José Mota foi convocado na Câmara Municipal de Paredes, no dia 30 de novembro, onde o Presidente da Câmara, Alexandre Almeida, tentou alegadamente um consenso entre Gandra e Recarei. O objetivo? Por fim ao litígio que existe entre as duas partes para aferir a propriedade de um terreno de 30 mil metros quadrados. Esta tentativa de concórdia camarária, depois de um recurso de uma providência cautelar apontar a Junta de Freguesia de Gandra como proprietária do terreno, fez com que José Mota abandonasse a reunião e perdesse a confiança política do autarca de Paredes. «Ele disse-me de caras ‘se abandonar a reunião perde a minha confiança política’», descreveu o agora ex-Presidente de Junta.

Sobre este assunto, o autarca de Paredes, Alexandre Almeida, diz apenas lamentar a situação. “Lamento, mas respeito e aceito a decisão do Senhor José Mota, ex-presidente da Junta de Freguesia de Gandra. Desenvolveu um trabalho digno de destaque em prol da sua freguesia e sempre defendeu Gandra. Merece o reconhecimento de todos”, escreveu o autarca, não respondendo diretamente às questões enviadas pelo Jornal Novo Regional.

“Colocaram-me perante cenários nos quais não sou capaz de me mover”

“A minha decisão tem razões profundamente pessoais e outras razões. Colocaram-me perante cenários nos quais não sou capaz de me mover. Sempre lutei por causas e princípios. Ultrapassar certos limites colide com os nossos valores, a nossa essência, a nossa educação. (…) Não aceitei que Gandra, a minha terra, fosse prejudicada. Abandonei essa reunião e, por isso, perdi a confiança política do presidente da Câmara”, explicou José Mota na sessão extraordinária da semana passada.

No mesmo discurso, o antigo professor da Escola Secundária de Valongo (ESV) disse: “abandono [o cargo] porque tenho razões muito fortes que colidem com os meus valores e integridade. As negociatas não me interessam para nada. Saio desolado por não poder continuar a exercer estas funções”, dando a entender que, depois desta desavença, não havia condições para continuar à frente do cargo.

Apesar desta situação, José Mota mantém o apoio e deixa elogios ao Executivo da Câmara Municipal de Paredes. A autarquia também se mantém positiva face ao futuro da freguesia. “A nossa equipa na Junta de Gandra continua unida e motivada a trabalhar pelo futuro da freguesia e a merecer a confiança do Executivo”, disse o Presidente da Câmara Municipal, Alexandre Almeida, nas declarações enviadas ao JNR.

O futuro deste litígio e da freguesia

Até à publicação deste artigo não foi possível falar com José Mota para perceber como é que o agora ex-Presidente de Junta vê o futuro deste litígio entre Gandra e Recarei. A perspetiva camarária sobre este assunto também continua uma incógnita, já que o Executivo optou por não responder diretamente às questões do JNR.

Quanto ao futuro da freguesia, está agora nas mãos de Sílvia Sá Pinto que, com a renúncia ao mandato de José Mota, assume o cargo de Presidente de Junta. Até agora tesoureira, Sílvia Sá Pinto era o segundo nome da lista que foi a eleições em 2021 e vai contar com Nuno Rocha e Samuel Moreira na presidência da mesa e como 1º secretário, respetivamente.