Porto – Arrancou esta quarta-feira, no Tribunal de São João Novo, o julgamento de nove pessoas acusadas de crimes violentos ocorridos em fevereiro de 2024, em Gondomar, incluindo o rapto de duas crianças, o sequestro e agressões a um casal. Quatro dos arguidos aproveitaram a primeira sessão para declarar-se “completamente inocentes”, assegurando terem sido identificados pelas vítimas “por ódio e vingança”.
O caso remonta a 6 de fevereiro do ano passado, quando, segundo o Ministério Público, os arguidos terão invadido a casa da avó das crianças, no concelho de Gondomar, sob ordens do patriarca do clã familiar — ex-marido da mulher e avô dos menores — com o objetivo de obrigar a vítima a voltar a viver com ele e recuperar a guarda das crianças, atribuída judicialmente à avó desde 2020.
A acusação é extensa: dois crimes de rapto, dois de sequestro, dois de roubo, dois de ofensas à integridade física qualificadas, dois crimes de ameaça e um de dano, todos em coautoria. Um dos arguidos responde ainda por posse de arma proibida. Quatro estão atualmente em prisão preventiva, três em prisão domiciliária e dois em liberdade.
Durante a manhã, foram ouvidos quatro dos nove arguidos, que negaram qualquer envolvimento nos crimes. Um deles alegou que se encontrava a dormir sob efeito de medicação na altura dos factos. Outro disse estar a trabalhar numa fábrica, tendo assinado a folha de ponto pelas 8h00. Um terceiro garantiu ser inocente “por convicção religiosa” e um quarto assegurou que nem conhece a vítima que o identificou.
A primeira sessão foi também marcada pela exibição de um vídeo divulgado nas redes sociais logo após os acontecimentos. Nele, a mãe das crianças e arguida no processo, admite as agressões: “Espanquei-a toda. O cabelo está aqui. Foi espancada pelas minhas mãos”, declara no vídeo, referindo-se à própria mãe, a quem terá cortado o cabelo à faca. Os vídeos mostram os três irmãos a exibir o cabelo da vítima como “prova” do sucedido.
Um dos arguidos afirmou que “lhe destruíram a vida” ao envolvê-lo no processo, garantindo que não conhece todos os restantes arguidos e que foi reconhecido a partir de uma fotografia de grupo. Outro acusado, defendeu-se dizendo que as armas encontradas em sua casa fazem parte de uma coleção e nunca saíram dali. Sobre o vídeo exibido em tribunal, confirmou reconhecer os sobrinhos, mas rejeitou qualquer participação.
A defesa dos arguidos começou a traçar a sua estratégia. Um dos advogados alegou que os seus constituintes agiram por “direito de necessidade” e que apenas terão cometido ofensas à integridade física, não qualificadas, em “excesso de legítima defesa”. A outra advogada sustenta que o seu cliente não estava sequer em Gondomar, mas sim em Vila Nova de Famalicão, a levar os filhos à escola.
A mãe das crianças, inicialmente reticente em prestar declarações, manifestou no final da sessão abertura para ser ouvida ainda esta quarta-feira à tarde. O julgamento prossegue com mais audições, incluindo a análise das provas vídeo e a inquirição de testemunhas-chave.
