Fotógrafo de natureza Paulo Ferreira: “Gondomar não soube aproveitar o êxito do filme sobre os moinhos de Jancido”

Paulo Ferreira, produtor e realizador de vídeo e fotógrafo de natureza, natural e residente em Gondomar, tem dedicado uma parte da sua vida a realizar documentários curtos ao redor do mundo. Países como a Espanha, Noruega, Chile, Argentina, Nova Zelândia, Islândia, foram lugares onde Paulo Ferreira já realizou filmes. Através dos seus filmes, procura fazer chegar às pessoas, a mensagem de que é necessário preservar os poucos espaços naturais que possuímos na nossa única casa, o Planeta Terra.
Viu já o seu trabalho distinguido a nível nacional e internacionalmente, por mais de duas dezenas de vezes. Refere em especial, os dois “Óscares do cinema independente”, no festival internacional de cinema independente, “Hollywood International Independent Documentary Awards” em Los Angeles, nas categorias de melhor documentário e melhor fotógrafo na técnica de “timelapse”, dois “golfinhos de prata” no festival “Cannes Corporate Media & TV Awards”, na categoria Nature, Environment & Ecology e internamente nos festivais “Finisterra Arrábida Film Art & Tourism Festival”, no “Festival Internacional de Cinema de Turismo Art&Tur”, ou no “Cineeco”, prémios que colocam a sua carreira enquanto realizador, num patamar de excelência a nível mundial e único a nível nacional.

Como e quando nasceu em si a vontade de vestir a camisola da causa ambiental?
Desde muito cedo, pude contactar com câmaras fotográficas, dado que o meu pai sempre teve lá por casa, alguns modelos analógicos. Como vivi sempre muito perto da natureza (em pequeno adorava visitar os meus avós maternos, dado que eles viviam numa pequena quinta nas Medas), o gosto pelo ambiente natural foi uma consequência saudável. E mais tarde, comecei a olhar de outra forma para a natureza, tentando fotografar o mundo ao meu redor. Absorvia tudo o que passava na televisão como por exemplo Jacques-Yves Cousteau ou Sir David Attenborough. Foram eles quem me motivou e apontou o caminho.
Com mais de 20 anos de experiência, sou na atualidade, produtor e realizador de documentários naturais. Em 2017 criei a empresa PTLAPSE, uma produtora de conteúdos digitais na área da fotografia, vídeo, timelapse e imagem aérea. Através das minhas fotografias e dos meus filmes, procuro fazer chegar às pessoas, a mensagem de que é necessário preservar os poucos espaços naturais que possuímos na nossa única casa, o Planeta Terra. O meu trabalho é já bem conhecido, dentro e fora das fronteiras, muito embora grande parte dos Gondomarenses, não me conheçam. O reconhecimento internacional, cada vez mais expressivo, do trabalho desenvolvido por mim, é a prova cabal da urgência que existe em interiorizar os valores acumulados ao longo da história.
Vi já o meu trabalho distinguido a nível nacional e internacionalmente, por mais de duas dezenas de vezes. Refiro em especial, o prémio de fotografia “Dos Rios aos Oceanos”, organizado pela Associação Portuguesa de Educação Ambiental (ASPEA), promovido pelo centro de Informação Europeu Jacques Delors (CIEJD), bem como os dois “Óscares do cinema independente” (fora do circuito comercial do cinema), no festival internacional de cinema independente, “Hollywood International Independent Documentary Awards” em Los Angeles, nas categorias de melhor documentário e melhor fotógrafo na técnica de “timelapse”, dois “golfinhos de prata” no festival “Cannes Corporate Media & TV Awards”, na categoria Nature, Environment & Ecology e internamente nos festivais “Finisterra Arrábida Film Art & Tourism Festival”, no “Festival Internacional de Cinema de Turismo Art&Tur”, ou no “Cineeco”, prémios que colocam a minha carreira enquanto realizador, num patamar de excelência a nível mundial e único a nível nacional.
Apaixonado pela vida natural e quase sempre de câmara fotográfica ao peito, percorro grandes e pequenos espaços, na busca de momentos únicos. Seja pela procura de comportamentos da fauna ou simplesmente pela beleza deste ou daquele sítio, percorro montes e vales, rios e ribeiros, na ânsia de algo que me faça sentir útil perante uma sociedade que a cada dia que passa, está mais desligada da natureza. Fotografar a natureza é para mim tão importante como respirar. Acredito que é uma boa forma de consciencializar as pessoas para a necessidade de mudarem os seus comportamentos.

Quais foram os primeiros trabalhos?
Os meus primeiros trabalhos foram sempre ao nível da fotografia e do timelapse. Editei um livro de fotografia sobre a água que ainda hoje me dá imenso prazer folhear. Gosto também de referir em concreto o timelapse, pois foi a forma de conseguir obter dinheiro para mais tarde comprar câmaras fotográficas de melhor qualidade. Sempre vendi muitos conteúdos que ia produzindo, a produtoras nacionais e estrangeiras. Ainda hoje revejo os meus primeiros trabalhos, pois são a forma de observar a minha evolução na fotografia, no timelapse e vídeo.

De todos os sítios do mundo onde esteve, qual ou quais aqueles que mais o marcaram? Seja positiva ou pela negativa?
De todos os sítios por onde passei, o que me marcou mais foi a Nova Zelândia. É um país repleto de espaços naturais e que congrega montanhas, planícies, vulcões, grutas, gelo, lagos, deserto, floresta e muita fauna e flora. Para sempre ficou na minha cabeça, a imagem de uma caverna a 60 metros de profundidade, onde estive durantes 3 dias e 3 noites, para fotografar na técnica de timelapse, as Glowworms (uma espécie de larva minúscula).

Pelo que vê acha que de facto estamos a matar o mundo? Se sim, ainda há um ponto de retorno?

Não tenho formação que me permita afirmar que estamos a matar o mundo, ou se ainda há um ponto de retorno. Mas uma coisa é certa, se não mudarmos os nossos comportamentos para com o ambiente que nos rodeia, a Terra que conhecemos atualmente, não será a casa da Humanidade. A Terra, continuará cá por muitos milhões de anos até o Sol a absorver, mas não tenho dúvidas de que não estaremos cá, pois estamos a criar um ambiente hostil para a nossa própria sobrevivência.

Estamos em pleno Parque das Serras do Porto. Falta fazer algums coisa para criar um verdadeiro parque?
Passados que estão muitos anos após a criação da Associação Parque das Serras do Porto, infelizmente não vejo nada feito. Nada que possa ser considerada uma mais valia para o território natural e para a preservação da fauna e flora peculiar que ainda cá existe. Muitos milhões após a sua criação, tudo está na mesma. Os interesses estão instalados. As politicas não têm sido as mais assertivas. Neste âmbito seria excelente se o poder autárquico se afastasse dos interesses económicos. Veja-se a moda dos passadiços. Já estive nos “quatro cantos do mundo” e nunca vi tantos passadiços e baloiços. Acho que todos juntos seriam menos do que os que se encontram em Portugal. Acho até que os baloiços devem ser para “embalar a população local”. Não vejo qualquer utilidade para além da mera “selfie”, onde quem a pratica nada sabe acerca do espaço onde está. As serras devem ser espaços de todos aqueles que vivem na área metropolitana do Porto. E por essa razão, há que distinguir os locais para lazer, desporto automóvel, caminhadas, etc. Todos temos gostos e hobbies diferentes e como tal clamamos por espaços bem geridos e bem definidos. Para além disto, há ainda a necessidade de criar e gerir áreas protegidas, onde a biodiversidade exista e seja possível preservar. Falo por exemplo da zona da Sra. do Salto. Um local de nidificação do Falcão-peregrino. Existem rumores de que se preparam para ali construir um passadiço. Acho que será um erro enorme e cujas consequências nefastas para aquela ave, deverão ser imputadas a quem promover essa construção.
Acho que há muito para fazer no Parque das Serras do Porto. E se existem verbas (milhões provenientes de fundos europeus), o trabalho deverá ser visível e realizado com profissionais. Não da forma como tem sido feito, com a “carolice” das populações locais e iniciativas particulares de cidadania. Tenho a leve sensação de que os “5 Rapazes de Jancido” têm feito mais trabalho nos Moinhos de Jancido, do que a Associação, no Parque das Serras do Porto. Realizar uma mão cheia de caminhadas pelo parque, não é certamente a melhor medida a tomar.

Como se sentiu com os comentários elogiosos sobre o documentário “No Silêncio dos Moinhos”?
Confesso que fiquei orgulhoso de ver a minha região na TV. O documentário natural “No silêncio dos moinhos” foi um sucesso a nível nacional. Não posso dizer o mesmo a nível local. Em 2019 quado comecei a trabalhar no documentário, estava longe de pensar que iria encontrar tanta fauna e flora nas proximidades de Jancido. Inicialmente (2018), fui convidado pelo António Gonçalves a visitar o local e inteirar-me do que existia. Aceitei o desafio e confesso que foi uma boa surpresa. Havia vários moinhos a serem recuperados e também logo percebi que por ali viviam alguns animais interessantes. Depois de muitas horas de filmagens na procura dos momentos mais elucidativos ao nível do comportamento de algumas espécies, em 2022 finalmente terminei o filme. Na altura apresentei-o à SIC, que logo me disse estar interessada em adquirir os direitos durante dois anos. Fiquei tremendamente satisfeito, dado que o investimento financeiro realizado por mim ao nível do equipamento, havia sido muito grande. Cheguei a ter 4 câmaras dia e noite nos bosques dos Moinhos de Jancido, com toda a insegurança que a sua colocação acarretou. O documentário viria a passar na SIC por duas vezes, algo que muito poucos municípios podem dizer que tiveram. Penso que se contam uma meia dúzia de trabalhos desta natureza e que passaram em televisão. Foi o caso de Gondomar, mas que infelizmente não souberam aproveitar, ou simplesmente não quiseram associar por opção política. De forma inacreditável senti que “assobiaram para o lado” e fizeram de conta que não viram. Gastam-se centenas de milhares de Euros por ano para promover o município (e que na maioria das vezes não se veem resultados) e depois não se percebe porque razão não aproveitam um trabalho desta natureza. O documentário foi líder de audiências nas duas vezes que passou em televisão e como tal é minha perceção de que promoveu Gondomar, como nenhum outro o havia feito. Dadas as circunstâncias que vivemos na atualidade, a par da problemática ambiental, acho que é tempo dos políticos deixarem de lado algumas ideologias arcaicas e começarem a trabalhar em prol de um mundo melhor, sustentável e que permita que os nossos filhos possam viver um futuro mais risonho. Só assim estaremos no caminho certo. E a nossa casa, o planeta Terra, será a casa da Humanidade.