Eunice Neves: “O CINDOR pugna sempre por implementar uma formação de qualidade”

Na edição em papel número 88 (29 de setembro 2022) do Jornal Novo Regional, destacamos o CINDOR Centro de Formação de Ourivesaria e Relojoaria, com instalações em Gondomar.
Na entrevista com a diretora do Centro, Eunice Neves, ficamos a conhecer um pouco da história, da atualidade e do papel que o CINDOR representa no que à Ourivesaria e Relojoaria concerne.

O CINDOR – Centro de Formação de Ourivesaria e Relojoaria, foi criado em 26 de dezembro de 1984. Qual foi a génese da sua formação e que necessidades levaram a essa criação?

O CINDOR é o único centro de formação profissional do país especificamente instituído no âmbito da ourivesaria e relojoaria e nasce fruto do protocolo celebrado entre o Instituto do Emprego e Formação Profissional, I. P. (IEFP) e a Associação dos Industriais de Ourivesaria e Relojoaria do Norte (atual AORP – Associação de Ourivesaria e Relojoaria de Portugal). Na génese da sua criação esteve a necessidade de encontrar uma colaboração institucional que viabilizasse a formação profissional numa área altamente especializada. Qualificar recursos humanos e muscular o setor, pela antecipação de necessidades e implementação de respostas formativas que permitam superar os desafios foi e continua a ser a nossa missão. Um setor mais qualificado é – e será sempre – um setor mais forte.

O objetivo é a formação em que área?

O objetivo é capacitar muito em particular os recursos humanos ligados à ourivesaria, joalharia e relojoaria, numa perspetiva transversal a toda a cadeia de valor do setor.

Uma melhor formação leva a uma aposta maior na internacionalização?

O CINDOR pugna sempre por implementar uma formação de qualidade.
Bem sabemos que quanto mais capazes forem os recursos humanos de determinado setor – nomeadamente por via da aposta na formação – mais preparados estarão para os exigentes processos da internacionalização, e fazemos questão de estar à altura do desafio.
Nesta fase, em que o setor da ourivesaria vê aumentar significativamente as suas exportações, internacionalizando-se de forma muito evidente, também a necessidade de mão de obra especializada aumenta. Daí a nossa contínua aposta na formação diretamente relacionada com as diferentes técnicas de ourivesaria, no âmbito do chamado “trabalho de banca”, mas também em áreas que sabemos serem hoje nevrálgicas ao setor e determinantes na sua abertura ao mundo: o design de joalharia, a fotografia de joias, o marketing digital, a gestão de vendas internacionais e outras que vimos implementando nos últimos anos. Tudo isso, com o objetivo claro de afirmar o posicionamento adequado do setor, em termos de formação dos recursos humanos, tanto ao nível nacional como internacional.

Quanto aos formadores, como é feita a seleção e há matéria prima suficiente?

Os formadores são sempre rigorosamente selecionados pela validação dos requisitos para o exercício das funções. Trata-se de uma seleção criteriosa, que assenta em critérios multidimensionais de rigor técnico, de competência e domínio das áreas em apreço, mas também – naturalmente – de capacidades sociais e relacionais, de competências pedagógicas e de um necessário alinhamento com a missão e valores do CINDOR.

E qual a resposta dos jovens? Há mais formandos do sexo masculino ou do feminino?

Nos últimos anos, temos sentido um crescente equilíbrio ao nível da representatividade de homens e mulheres nas ações de formação em ourivesaria, que tendencialmente estão hoje muito equilibrados.
Ao nível da Educação e Formação de Adultos, a partir dos 18 anos, temos sentido uma crescente procura por formandos mais jovens, o que nos dá uma garantia de renovação de gerações, especialmente se tivermos em linha de conta que temos apostado muito nos EFA PRO, dirigidos a pessoas que já trazem bagagem académica e que encontram aqui a oportunidade de fomentar sobretudo competências de cariz tecnológico.


Qual a percentagem de empregabilidade após a formação?

Muito alta! Com efeito, numa altura em que o setor evidencia um crescimento exponencial de posicionamento ao nível da internacionalização das empresas e de todo um boost ao nível do comércio de ourivesaria online, torna-se inevitável um aumento da necessidade de mão de obra. É, portanto, natural que – mais do que nunca – a taxa de empregabilidade seja muito elevada.

Na escolha dos planos e áreas de formação há auscultação das empresas para aferir as necessidades?

Sim. O CINDOR tem uma ligação umbilical às empresas, nomeadamente por via da componente de Formação Prática em Contexto de Trabalho, o que leva a que estejamos em constante diálogo com as mesmas. Estamos, por isso, perfeitamente cientes das necessidades de formação, independentemente de – em momentos pontuais – serem aplicados instrumentos mais específicos de levantamento de necessidades.

O desenvolvimento tecnológico e das tecnologias de comunicação (TIC) obriga a uma constante adaptação. Como responde o CINDOR a esta necessidade do dia a dia?

Essa necessidade foi ainda mais vincada e catapultada pela pandemia! De um momento para o outro, um centro com formação com carácter tão técnico e prático, viu-se obrigado a fechar portas e ter os seus formandos em casa. No entanto, esta foi uma oportunidade de desafio e de crescimento também para nós, que, julgo, soubemos aproveitar. Ao costumizar rapidamente a plataforma Moodle para o CINDOR, o que nos permitiu lançar formação à distância, encontrámos uma nova resposta de formação, à qual tem sido reconhecida muita qualidade. Na área da ourivesaria, por exemplo ao nível do Design de Joalharia, da Gemologia ou até de áreas mais práticas como técnicas de enfiamento de pedras, entrámos claramente na era 4.0 em termos de respostas de formação à distância.

Conseguem responder às solicitações de empresas do setor, a nível de número de profissionais necessários?

O que tem sucedido nos últimos anos é que as empresas tendem a contratar os formandos que por lá passam em Formação Prática em Contexto de Trabalho, normalmente conhecida como o período de estágio. Da mesma forma, as empresas vão-nos também solicitando indicações a que acedemos e que julgamos corresponderem às suas necessidades.

Como classificaria o estado atual da indústria da ourivesaria em Portugal?

Trata-se de uma indústria que se posiciona cada vez mais num novo paradigma ligado à moda, à criatividade e à inovação, e que ocupa cada vez mais espaço no escoamento através do comércio on-line. Este é um setor alicerçado na tradição e no saber dos mestres artesãos, mas que não descansa na busca do novo e que tem sabido adaptar-se às exigências que claramente têm sido feitas pelo mercado.

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