As páginas mais negras da triste vida da lousa

“As páginas mais negras da triste vida da lousa” é o título do livro de Adriano Ribeiro que vai ser apresentado no Auditório António Macedo, (CC Vallislongus) em Valongo, esta sexta feira dia 31 às 21h00.

Numa introdução incluída no livro, o autor, natural de Campo diz que “a indústria da lousa do Concelho de Valongo, é assunto que apesar de alguma atenção dispensada sobre a sua importância, atração e aplicação no plano estético e no contexto da produção nacional para exportação com importante significado para a economia do país, carece no entanto, da abordagem que está por fazer principalmente a que se refere às causas relacionadas com os malefícios da saúde daqueles que a extraíram do fundo das pedreiras e daqueles que no exterior a transformaram em produto final, desde tempos não muito longínquos.
Não é possível fazer uma abordagem séria sobre este tema, sem uma reflexão sobre o flagelo que foi em tempos idos, o problema da silicose para os mineiros, entulheiros, aplainadores, polidores, louseiros, soleteiros, serradores e fazedores de lápis de lousa (penas) e restantes artistas do exterior em acabamentos, incluindo as famílias de cada um.
Não é possível fazer uma abordagem séria sobre este tema, ignorando que para além da semana de 48 horas, o que implicava trabalhar de segunda a sábado das oito às cinco horas da tarde, a esmagadora maioria dos trabalhadores das pedreiras, numa sobrecarga de horário de trabalho por sua conta e risco, que começava logo ao romper do dia quando não era ainda madrugada e à luz do gasómetro e se prolongava até altas horas da noite à mesma luz”.

Mais à frente o autor refere “num universo de 174 indivíduos sepultados na Freguesia de Campo e que trabalharam nas pedreiras, (dados do Arquivo Municipal de Valongo com origem na paróquia de Campo) Campo, a Freguesia que com maior percentagem de habitantes trouxe sempre a trabalhar naquelas empresas desde o ano de 1894 até 1937 (dados possíveis) e com a profissão de mineiro, entulheiro ou louseiro. Desses 174, 63 com menos de 35 anos e mais de 13, a média de idade que vitimou esses 63 profissionais, foi a de 25 anos.
Por um lado, este dado é muito significativo para se perceber o malefício para a saúde a que estavam sujeitos estes trabalhadores da indústria da ardósia, que como consequência tão precocemente perderam a vida. E por outro, tendo em conta tão baixa média de idades com que faleceram, é de admitir a possibilidade que nesta relação de trabalhadores, haja vítimas mortais em acidentes de trabalho que não foi possível confirmar.
Fica aqui o alerta, para que se vá mais longe, sobre a história de um passado que muito ainda fica por conhecer, desta nossa terra, uma terra de gente mártir e trabalhadora.
Em memória de toda esta minha gente, me curvo com a minha vénia.”

O historiador Ivo Rafael Silva é quem vai apresentar o livro e no prefácio da sua autoria escreve “Graças a este magnífico trabalho do Adriano, ficamos hoje mais enriquecidos do ponto de vista histórico e cultural, quer como indivíduos, quer como sociedade. As várias terras que este estudo abrange são, assim, muito beneficiadas pela atenção memorialística que é dada aos seus «antigos» mineiros, louseiros, entulheiros, aplainadores, como também às respectivas famílias, às dolorosas esposas, aos não menos dolorosos filhinhos, amigos e/ou vizinhos, enfim, à comunidade como um todo.
Com este contributo, sabemos assim mais e sabemos melhor sobre realidades – e realidades difíceis – que permaneciam no silêncio. E, além de manifestar o prazer enorme que foi ler esta obra, só nos resta, por agora, agradecer ao autor tudo aquilo que este livro tão bem nos mostra e nos ensina.”

A edição do livro é do autor, com a chancela da Letras e Melodias, Associação Cultural e Recreativa.